Vilson Antônio Romero *
A Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do
Brasil (ANFIP) e a sua Fundação de Estudos da Seguridade Social, como
fazem há anos, divulgaram recentemente o documento "Análise da
Seguridade Social de 2011", com um abalizado estudo sobre as contas da
Previdência Social e a execução do Orçamento da Seguridade Social (Leia aqui a íntegra).
Com este trabalho, fica reiterado, sobremaneira, que, enquanto o
governo federal se queixa de falta de dinheiro para programas sociais e
ameaça fixar idade mínima para as aposentadorias do setor privado ou
mexer profundamente no regime de pensões por morte, há dinheiro a rodo
nas contas do sistema de proteção social que dá cobertura às ações
governamentais nas áreas da Saúde, Assistência e Previdência Social.
O governo federal, no ano passado, arrecadou R$ 528,19 bilhões
decorrentes das contribuições sociais. Aí estão incluídos os ingressos
mais expressivos de receita vindos da contribuição previdenciária (R$
245,89 bilhões), da Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social (Cofins - R$ 159,89 bilhões) e da Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido (CSLL - R$ 57,84 bilhões).
A Seguridade ainda conta com as arrecadações de mais de R$ 42
bilhões do Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público (Pasep), unificados desde 1976, e cujos
recursos subsidiam o seguro desemprego e o abono salarial dos
trabalhadores. Também se contabiliza, entre outros ingressos de menor
expressão, os R$ 3,40 bilhões oriundos dos concursos de prognósticos
(loterias federais oficiais).
Na outra ponta da balança orçamentária, estão as despesas ou
programas de transferência de renda que, segundo a ANFIP, na depuração
das rubricas, nos revela que, em 2011, totalizaram R$ 451,00 bilhões.
Esse montante superou em 12,3% os valores de 2010 principalmente em
razão da elevação dos valores dos benefícios previdenciários e dos
gastos na área da Saúde.
As aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) foram reajustadas pelo INPC de 2010, e o valor mínimo teve
aumento real, acompanhando a elevação do salário mínimo. Na Saúde, os
gastos totalizaram R$ 72,33 bilhões, R$ 10,40 bilhões a mais que em
2010.
O maior desembolso do Orçamento da Seguridade Social foi de R$
281,44 bilhões com o as aposentadorias, pensões e auxílios rurais e
urbanos do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), administrado pelo
INSS.
O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) também distribuiu
benefícios da ordem de R$ 34,17 bilhões, entre seguro desemprego e o
abono salarial - salário mínimo devido ao trabalhador que, no ano
anterior, recebeu menos de dois salários mínimos.
Há ainda, nesta contabilidade bilionária, o montante de R$ 23,35
bilhões de benefícios de prestação continuada da Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS), aos idosos e às famílias com pessoas com
deficiência de baixa renda. Também conta a importância de R$ 1,76 bilhão
relativa aos benefícios da Renda Mensal Vitalícia (RMV) a idosos e
deficientes. Já o Bolsa Família registra o maior aumento (24,3%) em
repasses - passou para R$ 16,8 bilhões em 2011, R$ 3,3 bilhão a mais do
que em 2010.
Ao fim e ao cabo, o estudo revela que sobraram mais de R$ 77
bilhões na Seguridade Social em 2011. Se considerarmos os resultados
positivos revelados pela ANFIP desde 2008, temos um superávit acumulado
de mais de R$ 230 bilhões. Aonde foi parar este dinheiro, que não para
melhorar benefícios, para reduzir os problemas do sistema caótico de
saúde, para minimizar a desigualdade no território nacional?
Uma parcela expressiva destas sobras ficou retida nas burras
federais, com a chancela do mecanismo chamado Desvinculação das Receitas
da União (DRU), aprovado pelos congressistas e dando carta branca ao
Palácio do Planalto para gastar a seu livre arbítrio 20% das
contribuições sociais, exceto a contribuição previdenciária. Com isto,
foram retidos, só em 2011, R$ 52,64 bilhões. Este dinheiro e todos os
demais excedentes servem para garantir o denominado superávit primário e
bancar as despesas e serviços da dívida pública. Enquanto isto, a
Seguridade, apesar de bilionária, padece de soluções para as
precariedades dos programas de seus três subsistemas - Saúde,
Previdência e Assistência Social. Que a população e o legislador tenham
consciência disto. Tem que mudar!
* Vilson Romero é jornalista, auditor-fiscal da
Receita Federal, diretor de Direitos Sociais e Imprensa Livre da
Associação Riograndense de Imprensa, da Fundação Anfip de Estudos da
Seguridade Social, diretor de Defesa da Justiça Fiscal e da Seguridade
Social do Sindifisco Nacional e presidente da Delegacia Sindical do
Sindifisco Nacional em Porto Alegre.
Fonte: FEPESP
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