62% apoiam cotas para alunos negros, pobres e da escola pública, diz Ibope
Pesquisa feita para o ‘Estado’ revela que aprovação às cotas raciais em
universidades públicas é proporcionalmente menor que às outras duas -
para carentes e estudantes da rede pública; mesmo entre negros, apoio a
cotas por cor é menor que para pobres
Quase dois em cada três brasileiros são a favor de cotas em
universidades públicas tanto para negros quanto para pobres como para
alunos da escola pública. Pesquisa nacional do Ibope feita a pedido do
Estado mostra que 62% da população apoia a implementação dos três tipos
de cotas - mecanismos que facilitam o acesso desses segmentos sociais às
vagas do ensino superior.
Há variações significativas, porém. O grau de apoio muda de região para
região, entre classes sociais, de acordo com a cor da pele do
entrevistado e segundo o seu grau de escolaridade.
Outra constatação importante da pesquisa é que há um apoio
significativamente maior às cotas que levam em conta a renda (77%) e/ou a
origem escolar (77%) dos pretendentes às vagas que às cotas baseadas só
na cor autodeclarada do aluno (64%).
Em contraposição aos 62% que apoiam todos os tipos de cotas, 16% dos
brasileiros são contra qualquer uma delas, segundo o Ibope. Os restantes
não souberam responder (5%) ou são a favor de um ou dois tipos de
cotas, mas contra o terceiro: 12%, por exemplo, defendem cotas para
alunos pobres e para alunos da rede pública, mas são contrários às cotas
para alunos negros.
A oposição às cotas para pobres, negros e alunos da rede pública tende a
ser maior entre brancos, entre brasileiros das classes de consumo A e
B, entre pessoas que cursaram faculdade e entre os moradores das
capitais e das Regiões Norte e Centro-Oeste.
Nível de estudo. Já o apoio à política de cotas nas universidades
públicas é proporcionalmente mais alto entre quem estudou da 5.ª à 8.ª
série, entre os emergentes da classe C, entre nordestinos e moradores de
cidades do interior do País.
Essa diferença de perfil entre os contrários e os a favor sugere que
aqueles que estão em busca de ascensão social e econômica tendem a ter
mais simpatia por políticas que aumentem suas chances de chegar à
faculdade, enquanto aqueles que já chegaram lá - a maioria sem ter se
beneficiado desses mecanismos - têm maior probabilidade de serem
contrários a esse favorecimento.
Em nenhum estrato social, porém, a oposição às cotas nas universidades
públicas é maior que o apoio a elas. Segundo o Ibope, num único segmento
há empate. É justamente entre os brasileiros que já se formaram na
faculdade - e, mesmo assim, só no que se refere à política de cotas para
negros: 49% dos diplomados são contra e 49% são a favor. O resto não
respondeu.
Como acontece com todos os estratos sociais, os brasileiros com nível
superior são francamente a favor das cotas para alunos de baixa renda
(78%) e para alunos originários da rede pública de ensino (75%). Por
que, então, só 49% defendem as cotas por cor?
Uma hipótese é que esse terço que apoia as duas primeiras, mas não a
terceira, avalie que as cotas por renda e por tipo de escola de origem
do aluno já sejam suficientes para cobrir as necessidades dos alunos
negros, por se sobreporem.
Das três cotas, a cor é a única que não se baseia em critérios verificáveis, mas na autodeclaração de quem pleiteia a cota.
Embora a resistência às cotas por cor seja maior entre quem cursou faculdade, ela aparece também entre outros segmentos sociais.
Mesmo entre negros, que se beneficiariam diretamente delas, as cotas por
cor recebem apoio menor que as cotas por renda e escola de origem: 26%
dos negros são contra as cotas para negros, mas só 16% deles são
contrários às cotas para pobres.
Grande maioria. Apesar das diferenças, a maioria absoluta é favorável às
cotas. Mesmo os 64% de apoio às cotas para negros são raros de
encontrar. Por comparação, menos brasileiros são a favor do voto
obrigatório (45%) ou defendem a reeleição dos políticos (58%), por
exemplo (Ibope, 2006).
A pesquisa Ibope foi feita entre os dias 17 e 21 de janeiro. Foram
realizadas 2.002 entrevistas em todas as regiões do Brasil. A margem de
erro máxima é de 2 pontos porcentuais.
SECOM / CPP
Fonte: "O Estado de São Paulo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário