A vida do brasileiro Alexandre Lopes nos Estados Unidos está marcada
por uma palavra tão comum quanto poderosa: amor. Foi atrás de um que, em
1995, ele trocou o Rio de Janeiro pela cidade Aventura, no condado de
Miami-Dade. O tempo passou, aquele amor acabou, mas Lopes insistiu em
seu sonho americano. Formado em produção editorial, chegou a ser
comissário de bordo nos EUA. Mas foi quando iniciou o mestrado em
educação que conheceu outra paixão que arrebataria sua vida. Em julho,
foi escolhido o professor do ano no Estado da Flórida, vencendo cerca de
185 mil pessoas. Aos 43 anos, ele concorre agora na etapa nacional e,
se vencer, poderá receber o prêmio das mãos do presidente Barack Obama,
na Casa Branca.
Natural de Petrópolis, no Rio, o brasileiro ganhou o prêmio estadual
após percorrer algumas etapas. Primeiro, concorreu na escola em que
leciona, a Carol City Elementary, depois, na região central e no condado
de Miami-Dade, até chegar ao Estado da Florida. Todos os professores da
rede pública do Estado concorrem ao prêmio, concedido pelo Departamento
de Educação da Flórida. O resultado da fase nacional deve sair entre
abril e maio de 2013.
Lopes conta que, em cada etapa, é necessário um trabalho escrito que
demonstre a filosofia e a prática educacional do docente, entre outros
quesitos. Os candidatos também são entrevistados e observados em sala de
aula pelo comitê de seleção. Quando se apresentam para as entrevistas
formais, têm 30 minutos para escrever uma redação sobre um tema
surpresa. Os prêmios do condado e do Estado são em dinheiro, mas a etapa
estadual, por exemplo, foi patrocinada pela rede de lojas de
departamento Macy's, que deu ao professor US$ 10 mil, uma viagem a Nova
York com três acompanhantes e um vale para fazer compras nas lojas da
rede.
Além dos prêmios materiais, Lopes ganhou outra coisa com o título:
popularidade. "De uma hora para outra me tornei uma pessoa pública,
tanto nos Estados Unidos como no Brasil", conta o professor. "Há muito
que pensar. Sempre fui empenhado e dedicado ao meu trabalho e à minha
vida pessoal, e é exatamente assim que planejo ser daqui para frente.
Cuido do presente o melhor que posso, e não temo o futuro. Gosto de
desafios. Desconfio que o fato de ter sido selecionado entre 185 mil
professores não é nada se comparado aos desafios que estão por vir",
complementa, antes de elogiar a parceria entre o ensino público e
patrocinadores privados para estabelecer um programa de reconhecimento
aos professores.
Com o prêmio, Lopes terá de cumprir uma extensa agenda no próximo
ano, dedicando-se a palestras, workshops e outras atividades fora da
sala de aula.
O começo de tudo
Ainda no Brasil, Lopes se formou em produção editorial na
Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Desde o jardim-de-infância até o
final do meu bacharelado, sempre fui ensinado por educadores
brasileiros. Acho que cheguei aonde cheguei, em grande parte, devido aos
grandes mestres que tive no Brasil", ressalta.
Logo que chegou aos Estados Unidos, contudo, ele ainda não pensava em
ser professor, apesar do desejo já haver se manifestado quando criança.
Lopes chegou a trabalhar como comissário de bordo, voando rotas
latino-americanas como intérprete de português e espanhol. Quando a
vocação começou a se manifestar, procurou um mestrado na área de ensino,
especializando-se em educação especial na primeira infância na
Universidade de Miami. Atualmente, ele cursa o doutorado em educação
especial e educação urbana na Universidade Internacional da Flórida.
O projeto
Foi no mestrado que o professor começou a se envolver com o programa
de inclusão para crianças com autismo em sala de aula, utilizando o
método Learning Experiences - An Alternative Program for Preschoolers and Parents (LEAP, Experiências de aprendizado - um programa alternativo para pré-escolares e pais, em tradução livre).
No programa, alguns alunos têm autismo e outros têm o desenvolvimento
típico para a idade. "Minha visão educacional é holística. Cuido do
lado acadêmico, mas também do lado social e emocional de meus alunos",
conta o educador, explicando que, por se tratar de uma área carente e
com muitos imigrantes, muitos estudantes têm dificuldade em se adaptar.
Lopes usa música e tecnologia em sala de aula e busca integrar a família
e a comunidade com os alunos. "Tudo dentro de minha sala contém um
rótulo e está acessível aos meus alunos, pois assim eles podem explorar o
ambiente e tomar as rédeas da própria educação", afirma.
Questionado se tem intenção de um dia retornar ao Brasil para
desenvolver um projeto semelhante, Lopes disse ainda não ter planos.
"Sinto-me lisonjeado com o interesse do povo brasileiro pelo meu
trabalho. Mas tudo é tão recente que ainda não consegui colocar minhas
ideias em ordem. Quanto ao futuro, ele nada mais é que uma consequência
do presente. O que tiver que vir virá e será de bom tamanho", declara.
Fonte: Portal Terra