sábado, 14 de julho de 2012

Crianças e adolescentes fazem sacrifício para estudar


Estudantes enfrentam estradas sem asfalto, empoeiradas e enlamadas

Estudar é sinônimo de sacrifício para crianças e jovens que vivem na zona rural de São Sepé. Para alguns estudantes, o dia começa antes que a escuridão da noite desapareça. Do contrário, correm o risco de perder o transporte escolar que, na maioria dos casos, trafega exclusivamente nas principais estradas dos distritos, obrigando meninos e meninas a caminharem até 2 quilômetros em vias empoeiradas ou enlameadas para embarcar nos coletivos. No retorno, fazem o caminho inverso com destino às moradias.

Muitos deixam botas e guarda-chuvas – necessários para enfrentar as estradas de chão batido em dias de chuva — pendurados nos pontos de embarque e desembarque de passageiros. “Só coloco os tênis nos pés para ir à aula. Quando volto, uso as botas para caminhar na lama”, relata Josiele, 14. Aluna de uma escola localizada na zona urbana, ela caminha 4 quilômetros diários para poder estudar. “O ônibus escolar não passa na frente da minha casa”, diz ela, que reside no distrito São Rafael.

Também moradora da localidade, Viviane, 15, acorda por volta das 5h. “É uma vida dura. Quando não está chovendo, o ônibus passa às 6h40min. Se chove, chega às 6h20min”, explica. Não raras vezes, acorda atrasada e perde o coletivo. A alternativa é caminhar cerca de 2 quilômetros até a BR 392 e embarcar no ônibus intermunicipal que passa pelo distrito às 8h30min — bem depois do início da aula.

“Quase não participo de atividades extracurriculares devido às dificuldades de deslocamento”, comenta Viviane. Havendo necessidade de realizar algum trabalho escolar em grupo, ela permanece na cidade. Para regressar à zona rural, necessita comparecer à Estação Rodoviária e embarcar em algum ônibus que cruze pela Estrada Geral — via de acesso a São Rafael. “Desembarco no acostamento da BR 392, atravesso para o outro lado da rodovia e começo a caminhada de volta para casa”, explica. O ideal, conforme ela, seria que houvesse uma rota regular entre a sede do município e o distrito.

Antes de tomar o chimarrão matinal, o pequeno agricultor Ermes, 44, caminha diariamente 500 metros pelo campo para conduzir a filha, de 8 anos, até o quilômetro 287 da BR 392, onde a menina embarca no ônibus escolar. Para não perder a “carona”, a garota necessita estar a postos, às 6h45min.
                                                                                 
Fonte: Correio do Povo

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