Silvia Ribeiro
Pesquisadora do Grupo ETC
Adital - 08.05.12
- Mundo
Em 21 de abril de 2012, o New York Times (NYT) publicou uma reportagem mostrando
que Walmart pagou 24 milhões de dólares em subornos para construir lojas e
dominar o mercado no México. Altos executivos da Walmart conheciam os casos
desde 2005 e o ocultaram. Ao contrário, fraguaram uma investigação contra o
denunciante, um ex-executivo de Walmert, que pediu demisssão por sentir-se
discriminado, apesar de que havia sido um dos encarregados do pagamento dos
subornos.
Eduardo Castro-Wright, executivo identificado pelo diário como a força
motriz dos subornos, foi promovido à vice-presidência de Walmart México e, em
seguida, a chefe de todas as lojas dos Estados Unidos, por ter feito do México
"uma das unidades mais lucrativas”.
Ante a má publicidade, os executivos da empresa afirmam que agora vão
investigar. Tudo indica que a denúncia do NYT representa uma mínima parte do
negócio da corrupção de Walmart, outras grandes empresas e funcionários. O
dinheiro mencionado parece que mudou de bolso para uma transnacional que
faturou 421.849 bilhões de dólares em 2011.
Walmart é a maior empresa do mundo há mais de uma década, superando
petroleiras e bancos na cúpula do poder econômico mundial. Tem quase o dobro
das vendas globais do que seu competidor mais próximo, a cadeia Carrefour.
Em 2009, o negócio de vendas de alimentos e miscelâneas superou, por
primeira vez, ao poderoso mercado global da energia, passando a ser o maior
mercado do mundo. (Dados em "¿Quién
controlará la economía verde?” - www.etcgroup.org/es). Não é um
produto qualquer. É um mercado que mantém cativa toda a população global que
não produz alimentos, porque ninguém pode viver sem comer. A competição para
controlar esse imenso mercado é feroz e, como vemos, não tem escrúpulos.
Devido à sua atual posição, Walmart controla e exerce uma influência
brutal sobre grandes setores da produção, do consumo e da política. Pratica uma
notória política antissindical, que começou desde que seu fundador, Sam Walton,
anunciou que a base de seu negócio seria pagar salários baixos e não pagar
benefícios sociais. É o maior empregador privado dos Estados Unidos e do México
e conseguiu baixar significativamente os salários médios de toda a indústria.
Mais de 60% de seus trabalhadores nos Estados Unidos não têm cobertura médica e
a cifra é maior nos países do Sul.
Em poucas décadas, acumulou um histórico impressionante de demandas
judiciais que vão desde não permitir a sindicalização de empregados a muitas
outras razões, cobrindo quase todo o espectro imaginável de infrações
trabalhistas: demissões sem justa causa; discriminação de deficientes;
discriminações por questões de gênero; trabalho infantil; falta de cobertura em
saúde; não pagamento de horas extras; emprego de trabalhadores sem documentos;
agressão contra vendedores Dora de seus locais de trabalho e outras.
Nos Estados Unidos tem sido objeto de 40 "ações de classe” em diversos
Estados, principalmente por discriminação de gênero, implicando a milhões de
mulheres. No México, está em primeiro lugar em demandas trabalhistas no
Distrito Federal (Laura Gómez, La Jornada, 3/5/12).
Walmart do México (Walmart, Sam’s Club, Bodegas Aurrera, Superama,
Suburbia, Vips, El Portón y Ragazzi) controla mais da metade do mercado de
vendas a varejo no país, superando a todas as outras cadeias juntas. Tem uma
agressiva política para eliminar competidores em cidades e povoados menores,
onde se estabelece muitas vezes sob o protesto da comunidade. Começa oferecendo
preços mais baixos e quando os comércios locais fecham, aumenta
consideravelmente os preços, acima do nível médio. Segundo Walmart Watch,
organização de atingidos pelo gigante nos Estados Unidos, para cada dois
empregos que gera em uma comunidade, são perdidos três.
A entrada do gigante nos contratos agrícolas com pequenos produtores
significou a ruína de muitos camponeses da América Central que, seduzidos pela
suposta "oportunidade”, foram à falência em pouco tempo devido às demandas de
uniformidade, quantidade, prazos, embalagens e o controle imposto pelas
certificadoras internacionais, ficando com grandes dívidas devido aos investimentos
que tiveram que fazer para poder entrar no jogo.
Os baixos preços de Walmart devem-se também à utilização sistemática de
montadoras em condições de exploração extrema. Uma trabalhadora de uma
montadora em Bangladesh disse ao jornal Los Ángeles Times, em 2003, que seu
horário de trabalho normal era das 8 da manhã até as 3 da madrugada, para
sobreviver com o nível de pagamentos fixados por Walmart. O gerente dessa
montadora queixou-se de que "deviam melhorar porque Walmart conseguia melhores
resultados na China” do que em Bangladesh.
De fato, agora, 80% dos produtos de Walmart são produzidos na China, em
péssimas condições de trabalho, às custas da qualidade e em vários casos
demonstrados, usando produtos tóxicos, por ser mais baratos. De todas as
exportações chinesas, 12% vão para as prateleiras de Walmart.
Walmart é um caso extremo de impacto contra trabalhadores, consumidores,
comunidades; contra a saúde e o meio ambiente. Porém, não é uma exceção; é a
norma do sistema industrial globalizado, particularmente no setor de alimentos.
No extremo da mesma cadeia, com um histórico semelhante, estão a Monsanto, a
Syngenta e outras. Por sorte, a maior parte dos alimentos é produzida fora
dessas cadeias, por camponeses, pastores, pescadores artesanais e em hortas
urbanas.
Apoiar essa produção e consumir produtos locais e sem químicos é
fundamental para minar a esses gigantes que querem controlar nossa comida,
nossa saúde, nossos trabalhos, nossas comunidades, nossa vida.
Adendo:
No Chile, Wlamart não opera com seu nome, mas através da cadeia de
supermercados Líder, que adquiriu há uns dois anos, proibindo, de imediato, a
venda de produtos procedentes de Cuba, da Venezuela e de outros países
"inimigos”. Na Venezuela, funcionam os supermercados Líder.
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=66773
.
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