Por meio de um editorial publicado no jornal Zero Hora de quarta-feira
(9/5), a RBS voltou a defender a criação de um sistema de
previdência complementar para o funcionalismo estadual do Rio Grande
do Sul. A Associação dos Juízes do Rio Grande do
Sul (Ajuris) considerou o texto um “ataque à Magistratura
gaúcha e os demais servidores estaduais”, ao chamar de “corporativista”
quem é contrário a este modelo de privatização
da previdência pública. O presidente da entidade, Pio Giovani
Dresch, responde ao editorial por meio do artigo abaixo:
O Silêncio da Zero Hora
Diz a Zero Hora em editorial que os juízes e servidores
públicos permanecem em silêncio corporativista sobre a previdência
complementar – leia-se: privatização da previdência.
Não. A Zero Hora parece ter ouvidos seletivos,
porque só o que a AJURIS tem feito há muitos anos é
combater esta ideia. Pode, portanto, nos acusar de outras coisas, mas
não de permanecer em silêncio.
Se isso é corporativismo é outra discussão.
Podemos muito bem redarguir que ao longo desses anos ZH tem sido um veículo
muito barulhento em defesa de um corporativismo de outra ordem, que quer
a qualquer custo transferir os milionários recursos dos fundos
previdenciários para grandes conglomerados financeiros.
Para isso, apresenta sempre só um lado da questão.
Ignora desde sempre que o chamado déficit da previdência
tem diversas causas outras, que não de natureza atuarial. Não
se preocupa em investigar e divulgar quanto dinheiro da previdência
foi desviado pelos governos para obras ou até mesmo destinações
menos nobres. Não se preocupa igualmente em esclarecer que a conta
do chamado déficit previdenciário é sempre agregada
com os valores de programas sociais, de inegável valor, mas sem
natureza previdenciária.
Outra coisa que nunca aparece em ZH é a informação
sobre fundos previdenciários entregues a empresas privadas que
quebraram em diferentes lugares do mundo – inclusive aqui ao lado,
na Argentina e no Chile –, deixando ao abandono milhões de
trabalhadores.
Não diz também por que milagre uma determinada
alíquota, alegadamente insuficiente para compor um fundo público,
possa render tão maravilhosos frutos num fundo privado.
Não será isto exatamente um silêncio
corporativista? E, pior, vindo de quem exerce a função de
bem informar?
Na verdade, questão de fundo é saber se
a previdência deve ser pública ou privada. Nós, assim
como milhões de trabalhadores deste país, confiamos que
a previdência pública nos oferece para o futuro uma segurança
que nenhum fundo privado oferece. Nunca sabemos onde explodirá
a próxima bolha e quais serão suas vítimas.
Não temos dúvida de que os sistemas de
previdência do país e do nosso estado passam por crises,
e pretendemos contribuir com os governos na construção de
um sistema seguro e autossustentável. Não somos adeptos
do corporativismo burro, que, inflexível na defesa de privilégios,
não percebe que caminha para o precipício, mas também
não caímos em contos de sereia e nem aceitamos receitas
prontas, apresentadas sem qualquer estudo sério que as sustente.
Vamos continuar nesta luta. Sem silêncios. Mas
esperamos que a fala de ZH não seja seletiva, que não fique
ela própria em silêncio nos pontos que não lhe interessa
revelar.
Fonte: Site 15º Núcleo CPERS/Sindicato
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