domingo, 2 de dezembro de 2012

O futuro de um país tem a cara da sua escola no presente


Cristovam Buarque 



O Dia do Professor deveria ser o Dia do Futuro do País, porque o futuro de um país tem a cara da sua escola no presente. Olhe como são as escolas de um país hoje e você verá como será a cara do país no futuro. E, embora a escola e a educação não sejam apenas professor, e sim sejam os prédios confortáveis, bem equipados, com salas disciplinadas, em número reduzido, em horário integral, sem greves – apesar de que a escola é uma coisa muito mais ampla –, a cara da escola é a cara do professor.

Olhe para a cara de um professor, para o brilho nos olhos deles, e você verá a cara da escola. E a cara e os olhos dele dependem do respeito que a sociedade tem para com o professor.

E o respeito tem a cara do salário em países como o nosso, onde o salário é fundamental. Então, o salário é a cara do respeito que a sociedade dá ao professor. O respeito que o professor recebe da sociedade é a cara da escola, e a escola é a cara do futuro; logo, o futuro de um país tem a cara do salário de um professor nos dias de hoje. 

O Brasil, historicamente, abandonou a educação e, por isso, o abandono dos professores. Tivemos, no Brasil, nove grandes planos nacionais. Neles a educação não entrou. Foram dois com Getúlio Vargas, Plano Especial de Obras Públicas (1939) e Reaparelhamento da Defesa Nacional (1943); o Plano Salte, no governo Eurico Gaspar Dutra; o Plano de Metas, no governo de Juscelino Kubitschek; o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, de João Goulart; o Plano de Ação Econômica no governo Castelo Branco; dois no governo do presidente Médici, intitulados Programa Estratégico de Desenvolvimento e o I Plano Nacional de Desenvolvimento do Médici; e o II Plano Nacional de Desenvolvimento, do Geisel.

E o resultado que vemos é a nossa posição inferior na educação, em comparação com os outros países. A 6ª economia mundial, a nossa, a 6ª mais rica, é a 88ª pior em educação.

O professor de ensino fundamental em países desenvolvidos recebe por ano uma renda 17% superior ao salário médio de seus países. No Brasil recebemos menos do que o salário médio do País. O rendimento anual de um docente de ensino fundamental no Brasil é 10% do que recebe um professor na Suíça.

Não tem futuro um País que continua tratando o professor assim. Nos Estados ricos, São Paulo, Rio de Janeiro, o salário médio é de R$ 1.800,00 por mês. O salário médio do Brasil é R$ 1.500,00. Não há quase diferença no salário pago nos Estados mais ricos e nos salários pagos na média brasileira. E há cinco Estados que não pagam o piso salarial nacional do professor.

O salário inicial do professor no Brasil é maior apenas do que o que se paga no Peru e na Indonésia. O salário médio anual de um professor no início de carreira na Alemanha chega a R$ 60 mil. A renda per capta da Alemanha não chega a quatro vezes a brasileira, mas o salário de seus professores chega a oito vezes mais do que a brasileira.

Na Coreia do Sul, o salário médio dos professores é 121% superior à renda média nacional. O professor ganha mais do que a média dos outros profissionais. No Brasil é abaixo. Isso mostra a importância que a gente dá à profissão.

Mas não basta pagar bem. Para que o professor tenha um salário que repercuta na qualidade da educação, é preciso que ele tenha muito boa formação, que ele seja escolhido entre os profissionais melhores preparados do País e é preciso que ele seja dedicado exclusivamente à atividade profissional. É preciso ganhar bem para exigir dele uma boa dedicação.

Mas não basta salário. Nem de longe basta o salário. Mas não há como ter os melhores quadros de um País dedicados à atividade do magistério se nós não tivermos bons salários para os professores. A própria palavra magistério vem de algo superior, vem de algo maior, vem de algo ligado ao magnífico. Nenhuma profissão é tão necessária como a do professor. Engenheiros são importantes, economistas, médicos, dentistas, tudo é importante, mas todos esses decorrem de um professor.

15 de outubro é o Dia do Professor e é um dia de luto do futuro do Brasil, até que atrevamos a fazer a revolução educacional que o Brasil precisa, e eu defendo – posso estar errado – que o caminho para isso é a federalização da educação de base.

http://www.profissaomestre.com.br/sitepm/view/action/visualizarArtigo.php?cod=448

Fonte: Profemarli.comunidades.net

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