Cristovam Buarque
O
Dia do Professor deveria ser o Dia do Futuro do País, porque o futuro
de um país tem a cara da sua escola no presente. Olhe como são as
escolas de um país hoje e você verá como será a cara do país no futuro.
E, embora a escola e a educação não sejam apenas professor, e sim sejam
os prédios confortáveis, bem equipados, com salas disciplinadas, em
número reduzido, em horário integral, sem greves – apesar de que a
escola é uma coisa muito mais ampla –, a cara da escola é a cara do
professor.
Olhe
para a cara de um professor, para o brilho nos olhos deles, e você verá
a cara da escola. E a cara e os olhos dele dependem do respeito que a
sociedade tem para com o professor.
E
o respeito tem a cara do salário em países como o nosso, onde o salário
é fundamental. Então, o salário é a cara do respeito que a sociedade dá
ao professor. O respeito que o professor recebe da sociedade é a cara
da escola, e a escola é a cara do futuro; logo, o futuro de um país tem a
cara do salário de um professor nos dias de hoje.
O
Brasil, historicamente, abandonou a educação e, por isso, o abandono
dos professores. Tivemos, no Brasil, nove grandes planos nacionais.
Neles a educação não entrou. Foram dois com Getúlio Vargas, Plano
Especial de Obras Públicas (1939) e Reaparelhamento da Defesa Nacional
(1943); o Plano Salte, no governo Eurico Gaspar Dutra; o Plano de Metas,
no governo de Juscelino Kubitschek; o Plano Trienal de Desenvolvimento
Econômico e Social, de João Goulart; o Plano de Ação Econômica no
governo Castelo Branco; dois no governo do presidente Médici,
intitulados Programa Estratégico de Desenvolvimento e o I Plano Nacional
de Desenvolvimento do Médici; e o II Plano Nacional de Desenvolvimento,
do Geisel.
E
o resultado que vemos é a nossa posição inferior na educação, em
comparação com os outros países. A 6ª economia mundial, a nossa, a 6ª
mais rica, é a 88ª pior em educação.
O
professor de ensino fundamental em países desenvolvidos recebe por ano
uma renda 17% superior ao salário médio de seus países. No Brasil
recebemos menos do que o salário médio do País. O rendimento anual de um
docente de ensino fundamental no Brasil é 10% do que recebe um
professor na Suíça.
Não
tem futuro um País que continua tratando o professor assim. Nos Estados
ricos, São Paulo, Rio de Janeiro, o salário médio é de R$ 1.800,00 por
mês. O salário médio do Brasil é R$ 1.500,00. Não há quase diferença no
salário pago nos Estados mais ricos e nos salários pagos na média
brasileira. E há cinco Estados que não pagam o piso salarial nacional do
professor.
O
salário inicial do professor no Brasil é maior apenas do que o que se
paga no Peru e na Indonésia. O salário médio anual de um professor no
início de carreira na Alemanha chega a R$ 60 mil. A renda per capta da
Alemanha não chega a quatro vezes a brasileira, mas o salário de seus
professores chega a oito vezes mais do que a brasileira.
Na
Coreia do Sul, o salário médio dos professores é 121% superior à renda
média nacional. O professor ganha mais do que a média dos outros
profissionais. No Brasil é abaixo. Isso mostra a importância que a gente
dá à profissão.
Mas
não basta pagar bem. Para que o professor tenha um salário que
repercuta na qualidade da educação, é preciso que ele tenha muito boa
formação, que ele seja escolhido entre os profissionais melhores
preparados do País e é preciso que ele seja dedicado exclusivamente à
atividade profissional. É preciso ganhar bem para exigir dele uma boa
dedicação.
Mas
não basta salário. Nem de longe basta o salário. Mas não há como ter os
melhores quadros de um País dedicados à atividade do magistério se nós
não tivermos bons salários para os professores. A própria palavra
magistério vem de algo superior, vem de algo maior, vem de algo ligado
ao magnífico. Nenhuma profissão é tão necessária como a do professor.
Engenheiros são importantes, economistas, médicos, dentistas, tudo é
importante, mas todos esses decorrem de um professor.
15
de outubro é o Dia do Professor e é um dia de luto do futuro do Brasil,
até que atrevamos a fazer a revolução educacional que o Brasil precisa,
e eu defendo – posso estar errado – que o caminho para isso é a
federalização da educação de base.
http://www.profissaomestre.com.br/sitepm/view/action/visualizarArtigo.php?cod=448
Fonte: Profemarli.comunidades.net
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