SAMUEL HÜBNER
Passado
um mês após a implantação do Ensino Médio Politécnico nas escolas
estaduais do Rio Grande do Sul, é momento de iniciarmos uma reflexão
dessa nova modalidade imposta pela Secretaria Estadual de Educação.
De
acordo com a proposta pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e
integrada ao ensino médio entre 2011 e 2014, entre os objetivos e metas
destacam-se: proporcionar atividades voltadas ao mundo do trabalho, à
ciência e à cultura, bem como erradicar os índices de evasão escolar e
reprovação. Segundo a proposta, “constatam-se altos índices de abandono
(13%) especialmente no primeiro ano, e de reprovação (21,7%) no decorrer
do curso, o que reforça a necessidade de priorizar o trabalho
pedagógico no Ensino Médio”.
Chegamos ao mês de abril e nós, professores, estamos nos deparando com uma realidade que já era visivelmente previsível.
Primeira:
no final do ano passado, ficamos felizes em saber que das 20 horas
semanais, 13 horas seriam destinadas ao cumprimento em sala de aula e
outras 7 horas seriam destinadas ao planejamento de nossas aulas.
Começamos o mês de março com 16 horas em sala de aula.
Segunda:
O Ensino Médio Politécnico prevê o cumprimento de 3.000 horas no
decorrer dos três anos do ensino médio, sendo necessário a oferta de um
contraturno para os alunos. Pois no dia em que os mesmos que frequentam
diariamente a aula no turno da manhã e precisam comparecer no turno da
tarde, escolhem faltar em um ou outro turno. E a meta do governo de
“aumento gradativo da taxa de aprovação e permanência nas escolas de
Ensino Médio na medida da implantação da reestruturação curricular, de
2012 a 2014” já fica defasada; sem falar nos alunos que trabalham ou
fazem algum curso profissionalizante e faltam a aula. Devemos lembrar
que de acordo com informações repassadas pela Coordenadoria Regional de
Educação ficou claramente entendido que os alunos devem frequentar as
aulas no contraturno. E aí surge outra questão: as empresas, os cursos
técnicos e profissionalizantes devem liberar os alunos para virem à
escola, ou vice versa? O que é mais importante?
Terceira:
Com a implantação da disciplina de Seminários Integrados, os alunos
precisam elaborar projetos de pesquisa integrando a sua vivência com a
teoria e a prática, na busca de um conhecimento tecnológico e científico
que os aproximem ao mercado de trabalho. Ainda, de acordo com a
proposta do Ensino Médio Politécnico, “[...] deverá ser destinado um
percentual da carga horária dos professores – um de cada área do
conhecimento, para ser utilizado no acompanhamento do desenvolvimento
dos projetos produzidos nos seminários integrados”. O discurso continua:
“ O desenvolvimento de projetos que se traduzirem por práticas,
visitas, estágios e vivências poderão também ocorrer fora do espaço
escolar e fora do turno que o aluno frequenta. Para tanto, deverá estar
prevista a respectiva ação de acompanhamento executada por um
professor.” E aí vem a questão: quem de nós, professores, acompanhará o
trabalho dos alunos fora do espaço escolar se não temos carga horária
destinada para isso? Sem falar dos momentos em que ministramos a
disciplina de Seminários Integrados e precisamos nos dirigir aos
laboratórios de informática e não temos profissionais habilitados para
nos darem suporte na execução dos trabalhos com os alunos; sendo que
muitos não sabem utilizar um editor de texto e muito menos conseguem
enviar um e-mail anexando arquivos.
Sabemos
que a educação escolar sempre foi e continua sendo alvo de opiniões,
críticas e tentativas. Está na hora de sofrer mudanças, porém, que devam
ser pensadas e repensadas dialogando com os responsáveis que estão em
sala de aula. Somos nós, professores, que sabemos das realidades e
desafios enfrentados no dia a dia. Mudanças são necessárias, sim.
Entretanto, não podemos abraçar um projeto no qual os caminhos não se
mostram claros e coerentes. Um mês já se passou e o desafio está e
continua lançado até o final do ano letivo. Não podemos esquecer que,
além de tudo, são nossos alunos que saem prejudicados.
SAMUEL HÜBNER é professor pós-graduação em Supervisão Escolar
SAMUEL HÜBNER é professor pós-graduação em Supervisão Escolar
Fonte: Site CPERS/Sindicato
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