domingo, 22 de abril de 2012

Ensino Médio Politécnico: avanço, retrocesso ou desafio?


SAMUEL HÜBNER

 

Passado um mês após a implantação do Ensino Médio Politécnico nas escolas estaduais do Rio Grande do Sul, é momento de iniciarmos uma reflexão dessa nova modalidade imposta pela Secretaria Estadual de Educação.

De acordo com a proposta pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e integrada ao ensino médio entre 2011 e 2014, entre os objetivos e metas destacam-se: proporcionar atividades voltadas ao mundo do trabalho, à ciência e à cultura, bem como erradicar os índices de evasão escolar e reprovação. Segundo a proposta, “constatam-se altos índices de abandono (13%) especialmente no primeiro ano, e de reprovação (21,7%) no decorrer do curso, o que reforça a necessidade de priorizar o trabalho pedagógico no Ensino Médio”.

Chegamos ao mês de abril e nós, professores, estamos nos deparando com uma realidade que já era visivelmente previsível.

Primeira: no final do ano passado, ficamos felizes em saber que das 20 horas semanais, 13 horas seriam destinadas ao cumprimento em sala de aula e outras 7 horas seriam destinadas ao planejamento de nossas aulas. Começamos o mês de março com 16 horas em sala de aula.

Segunda: O Ensino Médio Politécnico prevê o cumprimento de 3.000 horas no decorrer dos três anos do ensino médio, sendo necessário a oferta de um contraturno para os alunos. Pois no dia em que os mesmos que frequentam diariamente a aula no turno da manhã e precisam comparecer no turno da tarde, escolhem faltar em um ou outro turno. E a meta do governo de “aumento gradativo da taxa de aprovação e permanência nas escolas de Ensino Médio na medida da implantação da reestruturação curricular, de 2012 a 2014” já fica defasada; sem falar nos alunos que trabalham ou fazem algum curso profissionalizante e faltam a aula. Devemos lembrar que de acordo com informações repassadas pela Coordenadoria Regional de Educação ficou claramente entendido que os alunos devem frequentar as aulas no contraturno. E aí surge outra questão: as empresas, os cursos técnicos e profissionalizantes devem liberar os alunos para virem à escola, ou vice versa? O que é mais importante?

Terceira: Com a implantação da disciplina de Seminários Integrados, os alunos precisam elaborar projetos de pesquisa integrando a sua vivência com a teoria e a prática, na busca de um conhecimento tecnológico e científico que os aproximem ao mercado de trabalho. Ainda, de acordo com a proposta do Ensino Médio Politécnico, “[...] deverá ser destinado um percentual da carga horária dos professores – um de cada área do conhecimento, para ser utilizado no acompanhamento do desenvolvimento dos projetos produzidos nos seminários integrados”. O discurso continua: “ O desenvolvimento de projetos que se traduzirem por práticas, visitas, estágios e vivências poderão também ocorrer fora do espaço escolar e fora do turno que o aluno frequenta. Para tanto, deverá estar prevista a respectiva ação de acompanhamento executada por um professor.” E aí vem a questão: quem de nós, professores, acompanhará o trabalho dos alunos fora do espaço escolar se não temos carga horária destinada para isso? Sem falar dos momentos em que ministramos a disciplina de Seminários Integrados e precisamos nos dirigir aos laboratórios de informática e não temos profissionais habilitados para nos darem suporte na execução dos trabalhos com os alunos; sendo que muitos não sabem utilizar um editor de texto e muito menos conseguem enviar um e-mail anexando arquivos.

Sabemos que a educação escolar sempre foi e continua sendo alvo de opiniões, críticas e tentativas. Está na hora de sofrer mudanças, porém, que devam ser pensadas e repensadas dialogando com os responsáveis que estão em sala de aula. Somos nós, professores, que sabemos das realidades e desafios enfrentados no dia a dia.  Mudanças são necessárias, sim. Entretanto, não podemos abraçar um projeto no qual os caminhos não se mostram claros e coerentes. Um mês já se passou e o desafio está e continua lançado até o final do ano letivo. Não podemos esquecer que, além de tudo, são nossos alunos que saem prejudicados.

SAMUEL HÜBNER é professor pós-graduação em Supervisão Escolar

Fonte: Site CPERS/Sindicato

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